Quando, há sensivelmente dois anos, o jovem Ambrozini Salvador chegou aos escalões de formação do 1º de Agosto, levado pelo pai (Pedro Artur Salvador “Zatula”, antigo futebolista dos extintos Dínamos de Luanda e Rangol FC, jamais passou pela cabeça do petiz e muito menos do seu progenitor, de que poderia ser o começo de uma carreira promissora com a camisola rubro-negro. Tinha, na altura, 14 anos, mas vinha já com “fama” de craque, conquistada nos areias do município do Cazenga.
“Eu sempre acreditei que um dia podia jogar futebol, mas o meu pai sempre duvidou, porque nunca tinha me visto a jogar”, apressou-se a esclarecer o jovem de 16 anos, mais conhecido nas lides futebolísticas por Zini, melhor marcador do Campeonato Provincial de Futebol de Luanda, com 19 golos.
“Desde criança não pensava em fazer outra coisa, que não fosse ser futebolista e espero conquistar este sonho”, afirmou o atleta, actualmente integrado na Academia do 1º de Agosto, que não conseguiu esconder as dificuldades que teve, para entrar nas escolinhas do clube militar.
Como qualquer futebolista oriundo da periferia, Zini começou a dar os primeiros toques na bola ainda aos sete anos, nas ruas do Cazenga, concretamente no campo do Areias e no marco histórico. Nessa altura, o petiz já espelhava sinais que o identificavam como um talento para o futebol. Era, na maioria das vezes, em campos improvisados, com balizas marcadas por duas pedras que Zini mostrava as suas qualidades.
“Era uma espécie de dono da bola”, diz ele, algo orgulhoso com as responsabilidades que lhe eram atribuídas na escolha dos jogadores para formar as equipas. “Como era o capitão da equipa em que actuava, então escolhia os jogadores. Era eu quem fazia o onze e escolhia quem devia jogar e quem devia ficar de fora”, afirmou o jovem avançado.
Zini confessou ter sido muito bem recebido na Academia do 1º de Agosto, onde encontrou professores/técnicos conselheiros, mas sobretudo bastante educadores em relação a preparação do futebolista e do homem. “Acho que a forma como fui recebido aqui (1º de Agosto) contribuiu muito para que pudesse ter sucesso neste campeonato. Todos receberam-me muito bem e encontrei um bom balneário. Estou muito feliz por estar aqui e espero continuar a dar o meu máximo, para aprender bastante e ser um bom jogador no futuro”, perspectivou.
Dois anos depois, o jovem atacante mostra-se satisfeito pelo facto de ter provado ao pai que tem jeito para o futebol, numa altura em que o seu progenitor recusava a ideia de que podia enveredar pela carreira de futebolista.
“Um dia viu-me a jogar no bairro e prometeu que me levaria ao 1º de Agosto para fazer teste. Foi um teste difícil, porque encontrámos mais de 200 candidatos, mas apenas passamos três: eu, o meu irmão e mais um atleta, que depois foi dispensado”, recordou.
CARREIRA
Zini sonha jogar no Girabola Zap
Zini acredita que o futuro da sua carreira passará por uma experiência no Girabola Zap, o principal campeonato de futebol do país. O jovem futebolista não esconde a ansiedade de concretizar o sonho, mas admite estar disposto a cumprir todas as etapas necessárias. “Todo o jogador sonha com altos patamares e eu não fujo à regra. O meu grande sonho é ser um profissional do 1º de Agosto, jogar na selecção de Angola e depois atingir outros patamares. Mas, primeiro quero jogar no Girabola. Tenho a certeza de que posso conseguir ser um grande jogador, com dedicação e fé posso atingir altos patamares na minha carreira”, asseverou.
Forte no jogo aéreo, Zini tem outras habilidades que o tornam num avançado promissor, como é o caso da qualidade de passe e a agressividade na discussão pela posse da bola.“Tudo tenho aprendido na Academia. Os meus treinadores têm sido importantes no meu processo de aprendizado. A convivência na academia é espectacular. Espero ser campeão pelo 1º de Agosto, depois de atingir o objectivo de jogar na equipa principal do 1º de Agosto, espero alcançar à selecção nacional e jogar igualmente na Europa”, referiu o atleta, que diz inspirar-se nas qualidades de Ibukun. “A forma dele de transportar a bola deixa-me bastante impressionado. No exterior do país admiro a qualidade do futebol de Lionel Messi. É um jogador fantástico”, afirmou o jovem de 16 anos, estudante da 9.ª classe, no Colégio Patricia Rossana.
Zini não escondeu, por outro lado, a tristeza com o afastamento da selecção de Sub-17 que disputou e venceu a Taça Cosafa. O atleta chegou a ser convocado, mas problemas de saúde o afastaram da lista definitiva para a competição continental.
REVELAÇÃO
“Fico triste quando não marco golos”
O melhor marcador do “provincial” luandense de Sub-17, revelou ter uma relação muito íntima com as balizas adversárias. Como prova disso, o jovem confessou que se sente triste, sempre que deixa um determinado jogo em branco, ou seja, sem fazer qualquer golo. “Não sei porquê, mas fico zangado comigo mesmo. Acho que é um hábito de criança. Mesmo nos jogos nos bairros, ficava sempre ao lado das balizas, para ter a bola e marcar golo. Os meus amigos chamavam-me de “biateiro”, mas não conseguia estar longe das balizas”, disse o avançado, tendo acrescentado: “Fico muito triste quando não marco golos. Ainda bem que foram poucos os jogos em que não marquei. Gosto mesmo de fazer golos. Comecei a marcar golos quando jogava no meio-campo, porque não gostava de actuar no ataque, já que me sentia melhor a jogar no meio, mas depois com os golos que fui marcando, as pessoas incentivaram-me a continuar como avançado”, acrescentou Zini.
Na época que chegou ao 1º de Agosto, o jovem avançado viveu uma experiência como médio trinco, por orientação do treinador. Mas, depois, diz que foi igualmente por iniciativa do seu técnico que se mudou para a posição 10, tendo nessa altura iniciado o ciclo de golos com a camisola militar. “Mas também não fiz muito tempo nessa posição, porque passei depois a jogar como avançado. Continuei a marcar golos e estou até hoje nesta posição. O curioso é que fiz mais golos a jogar no meio-campo, que a jogar como avançado”, referiu.
Fruto da “intimidade” que mantém com as balizas adversárias, acabou sendo também com alguma naturalidade que o jovem futebolista viria a sagrar-se melhor marcador do campeonato provincial de juvenis, com 19 golos, contribuindo de forma decisiva para que o 1.º de Agosto conquistasse o título de campeão de Sub-17. “É uma sensação muito boa, a de poder ser campeão, mas acima de tudo contribuir para que a equipa ganhasse o campeonato. Estou feliz e espero continuar a ser decisivo para a nossa equipa”, rematou.
JD